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21 fevereiro 2019

Karl Lagerfeld: alguém que vale um retorno



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Há mais de dois anos, quando postei a última matéria deste blog, foi justamente sobre ele que escrevi. Na realidade, foi sobre sua genialidade, seu talento, sua visão estratégica e sua onipresença nos detalhes do Cruise 2017 da Chanel, diretamente de Cuba. Hoje, dois dias após sua morte, volto por alguns instantes.
Falei e falo de Karl Lagerfeld. Ele, que por si só já era um acontecimento com seus fios brancos, óculos escuros e atitude elegante, cravou uma marca inesquecível na moda e ganhou tanta visibilidade e importância quanto a própria Chanel, que comandou por mais de 30 anos. Era uma peça à parte e tinha autonomia para ser o que quisesse ser, mesmo que isso lhe custasse caro (quem lembra do desfile-protesto ou das frases ácidas e desnecessárias?). Além disso, também estava à frente da Fendi e de sua marca homônima com um fôlego invejável que sempre me impressionou: multiplique uma média de 60 looks por desfile para as temporadas de inverno/verão incontáveis (prêt-à-porter, Cruise e Haute Couture) das grifes e também ficarão se perguntando de onde vinha tanta vitalidade.
Karl foi responsável por revitalizar a Chanel de tal forma, que clássicos da marca (como o sapato Slingback ou a Classic Flap) voltaram ao mercado ou se atualizaram conforme a passagem dos anos e continuam sendo objetos de desejo cada vez mais valorizados. Além disso, definiu como icônica logo os C’s entrelaçados e encaixou de forma muito orgânica os tweeds e as pérolas, retransformando a grife de Coco e fazendo, em suas próprias palavras, o “que ela teria feito”. O olhar para o feminino, para a praticidade e para a fantasia é, na realidade, a ponte entre a mulher livre do início do século XX abrindo sua loja de chapéus e o kaiser excêntrico. Tenho certeza que Coco teria assistido com um sorriso no rosto ao desfile (Haute Couture 2016) em que Karl colocou costureiras da marca para receber aplausos, numa atitude de valorização do talento das mãos de quem constrói verdadeiramente a moda.
O que é certo é que Karl adorava criar. A criatividade sempre esteve presente em seu DNA, que parecia se renovar a cada temporada quando ele nos apresentava um desfile em meio a uma floresta de outono, dentro de um cassino de luxo, na orla de uma praia ou com um foguete decolando em meio à fila final (tudo isso montado de forma megalomaníaca dentro do Grand Palais). E não me canso de pensar que todo esse excesso maravilhoso que enchia nossos olhos era sobra do que acontecia dentro dele próprio. Afinal, sendo poliglota, fotógrafo e desenhista, adorando literatura, história e arte, o produto final só poderia ser tão enriquecedor quanto sua alma extremamente culta e artística. Para mim, que me descobri amante da moda enquanto cursava o Ensino Médio e num país conservador e machista por excelência, Karl era um arauto de um sonho muito distante e muito próximo.
Homenagear aqueles que passam por esta Terra e não passam em silêncio é um movimento válido e, por isso, para Karl, exceções criativas podem ser abertas: a de voltar a escrever neste espaço, inclusive, que só aconteceria quando meu coração sentisse que seria o momento correto. Pois bem, voltei! Mesmo que só por um momento e para dizer “adeus!” mais uma vez.

FOTO: Vogue

06 maio 2016

"Viva Coco Libre" e a passagem da Chanel por Cuba!



Na última terça-feira, Cuba ficou agitada com uma novidade no país. Depois da visita de Obama e do show dos Rolling Stones, foi a vez de Karl Lagerfeld levar a Chanel para as terras de Havana. E justamente por isso o evento foi tão rodeado de polêmicas, especulações, opiniões contra e a favor… Tudo gerando buzz pra marca, claro kkkk.


Vale lembrar que o país vivia um embargo americano até pouco tempo atrás. Isso e outros pontos da sociedade de Cuba, levaram muitos a manifestarem-se contra a apresentação da grife por lá. Entre os motivos, a pobreza econômica que a maioria da população enfrenta. 
Não se pode negar que o charme antigo de Havana inseriu a apresentação numa atmosfera toda especial. A arquitetura das casas antigas, os carros coloridos (os “cocotaxis” que levaram os convidados até o local do desfile), e até o convite deram um toque bem mais caliente para a homenagem à Coco! 


Gisele foi presença na primeira fila do desfile e chegou esbanjando sorrisos no Paseo Del Prado, avenida fechada onde aconteceu o desfile. Inclusive, o local me fez lembrar a todo momento da apresentação de Primavera/Verão 2015 da grife, em que a própria uber desfilou (bons tempos!).


Sobre os looks, conseguimos observar muita fluidez, jeans (sim!) e ares de tropicalidade. Uma verdadeira mistura do estilo único de Coco com a diversidade de cores inspirada pela ilha. É só reparar bem nas calças mais soltas, camisas, tricôs, preto e branco, e também nas listras e estampa de carros vintages dos vestidos. Entre os acessórios, sapatos baixos, flats e boinas (Che?).
E mais um detalhe interessante de notar: camisetas com a frase “Viva Coco Libre”. 


A fila final do desfile foi recheada de cultura. Modelos se uniram a moradores da ilha que tocaram música cubana e fecharam com chave de ouro a passagem da Chanel pela ilha. 

FOTOS: Getty Images, Agência Fotosite (FFW), Vogue México, @gisele, @meneghiniale

04 fevereiro 2016

1 ano de The Outfit: Muito obrigado!


Heeeeeeeeeey Outfits!!! Há exatamente um ano eu estava escrevendo o primeiro post desse blog e pensando: “Será que vai dar em alguma coisa? Será que vai valer à pena?”. E aqui estou eu, um ano depois pra responder SIM pras duas perguntas!

Quem olha apenas os números e índices do blog (que não são altos ou extraordinários) não consegue imaginar a mudança que ele causou na minha vida. Me fez pesquisar mais, aprender mais, criar mais, enxergar a moda de uma maneira diferente, enxergar as pessoas de maneiras diferentes, me deu novas perspectivas para o futuro e, principalmente, me deu a possibilidade de fazer algo que amo. 
O conhecimento de moda/mundo/pessoas que o The Outfit me proporcionou ao longo desse ano, sem dúvidas, foi uma das coisas mais incríveis de observar. Continuo achando muito legal a experiência de escrever um texto e pessoas lerem aquilo que penso de um universo tão legal e confiarem na minha visão disso tudo. 

Bem, até agora foi um ano, mas espero continuar esse trabalho por muito mais tempo (ou até que a internet do mundo acabe). E claro, espero que todos estejam sempre aqui para acompanhar, compartilhar, trocar ideias, dividir inspirações e dar sentido para o trabalho cansativo de editar imagens para os posts kkkkk.

Muitas pessoas participaram desse projeto, seja através de apoio, ideias para posts, compartilhando no facebook ou me dando o título de Mr. Outfit kkkkk. Ah, e não citarei nomes por motivos de: posso esquecer alguém. Obrigado por tudo, amigos e leitores ♥

23 janeiro 2016

Highlights da Milano Moda Uomo (FW 16/17)


A Milano Moda Uomo (ou Semana de Moda Masculina de Milão) teve sua edição outono/inverno apresentada entre os dias 15 e 19 de Janeiro. Escolhi os 5 desfiles que mais me chamaram a atenção e fiz esse post de highlights para inspirar quem estiver procurando as últimas tendências/acontecimentos da moda (as coleções são de inverno, mas quem disse que não podemos adaptar as informações ao nosso cotidiano? kkkk). É a primeira vez que escrevo sobre uma temporada masculina aqui no blog, espero que gostem!


1. O homem elegante e moderno de Ferragamo

O desfile da grife Salvatore Ferragamo, nascida em Florença, trouxe para a passarela um homem elegante, jovem e bem vestido. Preciso confessar que foi o meu preferido da semana de Milão, e por isso quis deixar um tópico só para comentar sobre ele kkkk.
A alfaiataria aparece ajustada e combinada a suéteres e camisas com estampas geométricas, tudo dentro de uma paleta linda de tons terrosos. 
Com calças acima dos tornozelos, lenço amarrado no pescoço e casacos com modelagem limpa, a apresentação de Massimiliano Giornetti (diretor criativo da Ferragamo) traz uma coleção que equilibra itens clássicos com uma aura jovem e moderna.

2. Xadrez e sleepwear na Fendi

Na Fendi, o xadrez toma forma dos pés à cabeça. Em calças de pijama, robes e tem cara de conforto - confirmando que o sleepwear é a bola da vez! (se duvida, é só reparar nas pantufas kkkk). 
A marca, que já causou muita polêmica e foi alvo de protestos em portas de desfiles, é uma casa que usa peles em suas coleções. Porém, para o inverno masculino, investiu também em lã, feltro e seda para a variação de texturas. 


3. O homem futurista da Versace

Donatella Versace sabe como chamar atenção. O homem da Versace para o Inverno 2017 veio com ares de futurístico. Seja pelas aplicações metalizadas, o uso de cores espaciais (branco, cinza, preto, roxo, e tons de azul) ou pelas peças que tinham um shape mais justo.
O styling também mostrou combinações de alfaiataria com sportwear, além da famosa mochila com estampa espacial que ganhou as cores da coleção (pode mandar uma aqui pra casa, viu Donatella? kkkkk)
Looks exagerados ou não, aposto que muito do que passou na passarela pode ir fácil pras lojas.

4. A quebra de gêneros da Gucci

Sem dúvidas, a Gucci fez um dos desfiles mais divertidos da semana de Milão. Na apresentação, vemos toda essa temática colorida, vintage, exagerada (chame como quiser!) e características dos anos 70 nas diferentes estampas que marcam as peças. Sobreposições e combinações, com direito a camisetas do Snoopy, dão o tom divertido à coleção. E o principal: o gênero indefinido nas roupas de Alessandro Michele.


5. O pessimismo de Miuccia

Miuccia Prada sempre tem uma história para contar. A dessa vez é pesada e cheia de sombras, não só nas roupas, mas também no cenário.
Disfarçada de inspiração náutica, a verdadeira fonte para a nova coleção é um pessimismo que domina o mundo: guerra, crise, migração. Camisas desabadas e estampadas com as imagens do artista Christophe Chemin, punhos e golas em destaque, casacos pesados e uma paleta recheada de cores escuras fazem parte do styling do desfile.

FOTOS: Agência Fotosite, Marcos Tondo (indigitalimages.com) e Kadu Dantas (@kadudantas).




13 janeiro 2016

David Bowie: a vida e o legado na moda! (Texto de Vitória Santos)



Vamos iniciar falando de arte. O que é arte? Apesar do significado profundo, podemos verbalizar isso de forma simples. A arte pode ser simplesmente uma manifestação humana, realizada de várias maneiras, com diversas formas de linguagens. Cada manifestação tem um significado único e expressa ideias, emoções e até mesmo devaneios da raça humana. E é nessa linha de pensamento que percebo que cada linguagem da arte tem seus seguidores e criadores. Uns especialistas em música, outros em cinema, em dança... Mas é sempre admirável quando vem um e consegue reunir muitas linguagens numa só. Não é comum encontrarmos alguém capaz de fundir vários elementos artísticos num só. Acredite, a memória deste alguém vai resistir às passagens do tempo só por ter sido responsável por essa magnífica fusão. E assim chegamos em David Bowie. Tudo bem, você pode até não conhecer o camaleão do rock, mas sem dúvida alguma já viu aquele raio vermelho e azul estampado em camisetas, imagens bonitinhas do Tumblr ou em tatuagens (Se for um fã da Vogue, como eu, deve lembrar-se da Vogue UK de 2012, em que Kate Moss estampou o raio de Aladdin Sane na capa). E se você decidir pesquisar sobre ele agora, vai encontrar fontes óbvias dizendo que David era um artista musical. Mas não, ele foi bem mais que isso. Primeiro, não podemos desvincular a sua música da imagem. Sua obra vai além das ondas sonoras. Bowie foi responsável por uma revolução cultural que inovou não só a música, mas também a moda e a maneira de se vestir da época. Se hoje você vê notícias do filho de um ator famoso que está fazendo campanha de roupas femininas para desafiar essa questão de gênero e acha isso algo inovador, eu sugiro que volte umas casinhas e vá aos anos setenta, onde Bowie já desafiava tudo isso com sua rebeldia punk e glamour andrógino. 


Ok, música é arte. Mas onde a moda entra no meio de tudo isso? Eu entendo que a "numeração das artes" já está certinha e escolhida, e a moda não está na lista. Apesar de todas as tentativas de se explicar o que é a moda, nunca encontramos a palavra "arte" no meio delas. Não sei combinar cores e nem entendo muito esse amontoado de listras ou xadrez. Conheço Dior e Oscar de la Renta, adoro desfiles do SPFW e um dos meus humildes sonhos é participar da Semana de Moda de Nova York. Sei a importância da Coco Chanel para todas as mulheres, mas confesso que não sou nenhuma entendida desse assunto - na verdade, me acho totalmente ignorante. Mesmo tendo inúmeros ícones da moda como exemplo, vou citar logo a Blair Waldorf, de Gossip Girl (saudades!): "Moda é a arte mais poderosa que existe, é movimento, design, arquitetura, tudo em um. Mostra ao mundo quem somos e quem queríamos ser". E assim eu começo onde finalmente queria chegar. 

David Bowie mostrou que é completamente capaz de reunir música e moda de uma maneira esplêndida. Para ele, as roupas eram uma das principais formas de transmitir sua mensagem como músico. Dono de muitos alter-egos como Ziggy Stardust e Aladdin Sane, sua maneira de enxergar a moda fez parte de uma grande revolução cultural que até hoje temos como inspiração. David deixou sua marca no estilo, no design, no visual e, é claro, nas roupas. Seu trabalho não agradava apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Não foi à toa que precisaram fazer uma grande exposição no Victoria and Albert Museum em 2013 (e também no Museu de Imagem e Som em São Paulo) para mostrar suas 300 peças que o acompanharam em sua carreira. Grandes estilistas como Alexander McQueen (que desenhou suas roupas para a turnê Earthling em 1997) fizeram parte da vida de David e foram influenciados (direta ou indiretamente) por ele. Giorgio Armani desenhou suas roupas para a turnê Sound and Vision em 1990 e Kansai Yamamoto esteve presente em diversas turnês de Bowie. 


Além de tudo isso, ainda é preciso ressaltar o legado que o cantor inglês de olhos de duas cores nos deixou. Assim como o muro de Berlim foi derrubado, que caia também a barreira entre a roupa masculina e feminina! Suas personas mostraram que não é necessário seguir padrões e por mais que o gênero na moda seja algo bastante discutido atualmente, há décadas esse tabu foi quebrado por David Bowie. O mundo da moda já admitiu há tempos a importância da sua influência: Jean Paul Gaultier, Jonathan Saunders, Hedi Slimane... Bowie é nada mais que um desfile de moda ambulante. E sua androginia, sua liberdade de misturar formas, cores e brilhos, seus saltos altos e maquiagens, seus ternos e maiôs, tudo isso causou impacto no mundo visual como um meteoro que nunca vamos superar e nos trouxe mais uma explicação para a moda, que além de ser uma expressão, uma arte, um movimento visual, é também uma ideia de liberdade.  



TEXTO: Vitória Santos (Que além de homenagear esse ícone, esteve disposta a escrever de madrugada ❤)

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